Será que o seu telemóvel está a afetar a sua relação com o seu filho?
Nunca os pais tiveram oportunidade de passar tanto tempo com os seus bebés como atualmente. No entanto, parece que cada vez mais existem várias distrações que afetam a qualidade desse tempo passado entre pais e bebés. Os telemóveis estão, de forma crescente, a impactar negativamente essa relação.
Sabemos hoje que a interação com o bebé no período entre os 0 e os 3 anos é o elemento mais importante para o seu desenvolvimento, pois é na relação que o cérebro do bebé se desenvolve e que ele mais aprende. Por isso, o que quer que seja que perturbe o tempo, o significado ou a qualidade emocional das interações terá repercussões sérias tanto no desenvolvimento dos bebés, como para a relação de vinculação entre pais e bebés.
Quando o bebé nasce, o seu cérebro é ainda muito imaturo, sendo que o maior e mais rápido desenvolvimento se dá nos primeiros 3 anos de vida. Este desenvolvimento cerebral, que faz com que o bebé aos três anos já tenha cerca de 85% do cérebro que terá em adulto, faz-se na exposição a experiências diversificadas, mas sempre com base na interação com o outro, regra geral os cuidadores mais próximos.
Explicando um pouco melhor: quando a mãe/pai responde aos sons ou choro do bebé ao pegar nele ao colo, ou quando o bebé sorri e o pai sorri de volta, quando o bebé aponta para uma imagem de um livro e a mãe olha para a mesma e a descreve, por exemplo, estão a construir o cérebro do seu bebé. Com este “jogo de dar e receber” estão literalmente a arquitetar o cérebro do bebé, criando as bases de toda a aprendizagem, comportamento, personalidade, saúde física e mental. Sem esta interação “olhos nos olhos” não há desenvolvimento cerebral!
Há muitas coisas que podem atrapalhar esta interação fulcral dos pais com os seus filhos e que são fáceis de perceber, como por exemplo a doença mental de um dos pais ou separação física do bebé. Mas uma das barreiras mais comuns e menos valorizadas por nós nos dias de hoje é, provavelmente, o uso que os pais fazem da tecnologia, nomeadamente do seu telemóvel.
Cada minuto de atenção que damos ao telemóvel quando estamos com o nosso bebé é um minuto a menos de interação que temos com ele ou uma disrupção na interação que estávamos a ter.
Neste momento deve estar a pensar: “Olhar para o Facebook ou Instagram ou dar uma vista de olhos rápida para responder a um email pode não parecer grande coisa”. Mas os bebés são “esponjas” nesta necessidade do cérebro se desenvolver e estão constantemente absorver tudo à sua volta. Os pais que estão absortos com os seus telefones podem, por exemplo, não conseguir estimular as competências básicas da linguagem, entre outras.
Os bebés precisam de um cuidador carinhoso, recetivo e atento que os ajuda a desenvolver e aprender. Eles esperam que o seu cuidador seja assim e é essencial que isso aconteça, caso contrário existe uma grande ameaça ao desenvolvimento e bem-estar do bebé.
Para além disso, é praticamente impossível responder de forma sensível e atenta às necessidades do bebé enquanto se escreve uma mensagem de texto ou se faz um scroll nas redes sociais. Esta distração terá certamente consequências negativas para o bebé – para além da tristeza e retração do momento, a longo prazo poderá causar danos no bem-estar emocional, mau comportamento infantil e atraso no desenvolvimento da linguagem, entre outros.
Os bebés percebem que algo está a desviar a atenção que os papás deviam estar a prestar a si! Embora ainda não tendo a capacidade para dizer que não gostam que a mamã e o papá não estejam disponíveis, conseguem demonstrar que estão descontentes. Numa tentativa de recuperar a atenção dos pais podem, por exemplo, fazer birras, ficar muito inquietos, choramingar ou mesmo amuar, já que os mais pequeninos não têm ainda as capacidades cognitivas para explicar à mãe/pai que precisam da sua atenção.
Se for realmente muito difícil para os papás desligarem-se do telemóvel (por vezes já nem se dão conta que estão há tempo demais “emaranhados” em mensagens e afins), podem optar por implementar estratégias para toda a família, de que são exemplos: planear os momentos e locais exatos em que podem realmente estar com os dispositivos, ter um cesto para colocar os telemóveis quando a família está reunida ou desligar as notificações do telemóvel quando chegam a casa. Mas o melhor mesmo seria que da próxima vez que esteja com o seu filho deixasse o telefone na carteira!
Já agora, sabia que o tempo de utilização de dispositivos pelos pais é o maior preditor do tempo de utilização por parte dos filhos, no futuro? Dá que pensar, não dá?