Será que a sua infância está a afetar a do seu filho?

Ser mãe e pai nem sempre é fácil, e coloca-nos perante muitos desafios em que a nossa própria história pessoal é trazida à tona (muitas vezes de forma inconsciente) na forma como lidamos com os nossos filhos.
Já se deu conta que muitos pais parecem lidar com humor ou de forma muito relaxada com algumas situações em que os filhos os colocam ao longo do seu crescimento?! Já parou para se perguntar a si próprio quando responde de forma mais agressiva, quando perde a trolitana com o mínimo espirro, se as suas próprias questões internas, da sua própria infância não estão a ser descarregadas naquele ser pequenino ali à sua frente? No fundo perceber que a nossa própria infância vai ter um papel importante na forma como lidamos com os nossos filhos e os educamos.
Vemos isto na forma como lidamos com eles nas situações que nos colocam mais “nervosos”. Muitas vezes será só uma reação relacionada com o stress em que estamos e que nos torna menos pacientes, mas quando a coisa se repete, já se tratam dos nossos pensamentos e atitudes. Ou seja, tudo depende da maneira como estamos a interpretar a situação que “disparou” o nosso comportamento.
Na maior parte das vezes, nem nos apercebemos dessas crenças, que geralmente são inconscientes e foram moldadas na primeira infância. Imagine, por exemplo, se …⠀
…na nossa infância sentimos que por mais que fizéssemos, nunca chegava e nunca nos sentimos suficientemente bons, provavelmente ao longo da vida fomos estabelecendo padrões impossivelmente altos . O que para além de uma missão impossível e condenada ao fracasso, foi sendo acompanhada por um excesso de autocrítica. Pior ainda, o “ótimo é sempre inimigo do bom” e o perfeccionismo dos pais vai mesmo inconscientemente sabotar o amor incondicional que nossos filhos precisam, algo que eles vão sempre sentir, se não os aceitamos como eles são.
Ou se…
…os nossos pais reagiram de forma mais agressiva (levantando a voz, ou até a mão, e falando alto na nossa cara em tom de ameaça) quando fizemos uma birra ou mostramos que estávamos chateados com qualquer coisa, isso na altura despertou em nós um funcionamento de “modo de sobrevivência” perante aquele “perigo subjetivo” e que preparou o meu corpo para “fugir ou atacar” embora provavelmente tenha ficado petrificado no chão! Ora, quando em adulto o nosso filho fica chateado e o demonstra de forma intensa, vai inconscientemente “disparar” o modo de sobrevivência em que o nosso filho passa a ser “sentido” como o inimigo!
Ou se…
…em criança os nosso sentimentos e pensamentos não foram respeitados pelos meus pais, podemos nos tornar em adulto “hipersensíveis” ao desrespeito e interpretar um comportamento desobediente do nosso filho como se me estivesse a desrespeitar, o que vai com certeza ativar a sua raiva na reação com ele, mesmo que ele tenha só 2 anos.
Se calhar está na hora de nos começarmos a questionar acerca das raízes do nosso comportamento, para além de questionar o comportamento dos nossos pequeninos. Eu como psicóloga e de orientação analítica já fiz esse caminho (assim uma espécie de carimbo de saúde mental para poder tratar da saúde mental dos outros), e continuo a fazer, dou por mim muitas vezes a pensar, a refletir, a questionar o meu comportamento com a minha filha…Não numa perspetiva abstrata, mas no momento em que a situação esta a acontecer. Ajuda IMENSO, colocarmo-nos nos seus sapatos, tentar perceber o que eles estão a sentir, para os poder ajudar sem ter que descarregar. Se olhar para ela e pensar que ela me está a pedir ajuda da melhor forma que sabe, eu coloco-me ao lado dela, se por outro lado olhar para ela e pensar que ela me está a desafiar ou a testar, naturalmente vou colocar-me contra ela e com vontade de a castigar.
É por estas e por outras, que na minha agenda tenho sempre um espaço para os meus adultos, porque atrás de uma criança em desespero, está sempre um adulto em dificuldades 🙂
Pense nisto….