Pegar (ou não) no bebé ao colo afeta o seu DNA!
Todos nós sentimos uma vontade imensa de, quando vemos um bebé, pegar nele ao colo e dar muitos beijinhos e miminhos. No entanto, todos nós também já ouvimos aquelas típicas opiniões acerca de como o colo vai mimar demais o bebé, habituá-lo mal e arruinar a sua personalidade para toda a vida, deixando-o uma pessoa mimada e mal-habituada para todo o sempre!
Felizmente que estudo após estudo a ciência vem dizer o contrário e reforçar aquilo que todas as mães e pais sabem instintivamente: que os bebés são para se pegarem ao colo e que isso de colo a mais não existe!
Sabemos hoje que o colo traz inúmeras vantagens para o desenvolvimento global do bebé e em particular para o seu desenvolvimento cerebral: por exemplo, o contacto pele com pele praticado diariamente está correlacionado positivamente com um melhor neurodesenvolvimento e com um QI mais elevado, sendo que alguns estudos demostraram que o toque pode até mesmo ajudar os bebés a aprender novas palavras, para além de promover o desenvolvimento do vínculo entre pais e bebé.
Acredito fortemente no poder do conhecimento para permitir que os pais ajudem melhor seus filhos no seu desenvolvimento. Por isso aqui tentamos traduzir algumas informações que se encontram ainda muito concentradas nas revistas científicas e que aparentemente podem parecer muito complexas, em ideias simples mas importantes, para os pais acerca de como as nossas atitudes parentais podem influenciar para sempre o desenvolvimento do bebé.
Há evidências extensas de que o toque e o colo podem ter efeitos muito positivos e poderosos nos bebés, incluindo estudos que indicam que o contacto regular pele com pele pode ajudar os bebés prematuros a ganhar peso e deixar um internamento mais cedo e pode ser uma ajuda importante na amamentação em bebés de termo.
Ou seja, muitos são já os estudos que mostram como o contacto humano afeta os bebés ao nível comportamental e de desenvolvimento, mas este é o primeiro estudo que analisou as mudanças moleculares que ocorreram em crianças como resultado do toque na sua infância (ou a falta dele, em alguns casos).
A nível cerebral sabemos também que os bebés que recebem muito afeto maternal em resposta a períodos de stress para o bebé, na verdade têm cérebros maiores do que bebés que não são tão atendidos maternalmente. Mais especificamente a parte do cérebro responsável pela modulação da memória e do stress – o hipocampo – que era fisicamente maior e melhor desenvolvido nestes bebés que recebiam consistentemente afeto responsivo (ser atendido nas suas necessidades, como por exemplo ter colo quando está a chorar) por parte das suas mães (o estudo não examinou o efeito do cuidado paterno).
Mas o que não se sabia é que todo esse afeto físico faz muito mais do que isso! O contacto físico e próximo pode realmente produzir alterações bioquímicas no seu bebé que podem potencialmente afetar o seu desenvolvimento, de acordo com novas fascinantes investigações.
Nos últimos anos alguns estudos no campo da epigenética (estuda as mudanças nas funções dos genes, sem alterar as sequências de bases (adenina, guanina, citosina e timina) da molécula de DNA) têm-se juntado a este extenso corpo de investigações, demonstrando que dar colo aos bebés é benéfico até a nível do DNA do bebé, causando alterações bioquímicas que podem afetar a atividade genética com efeitos a longo prazo.
O cérebro do bebé
Do nascimento até os 5 anos, o cérebro de uma criança desenvolve-se mais do que em qualquer outro momento da vida. E o desenvolvimento inicial do cérebro tem um impacto duradouro na capacidade da criança de aprender e ter sucesso na escola e na vida. A qualidade das experiências de uma criança nos primeiros anos de vida – positiva ou negativa – ajuda a moldar a forma como o cérebro se irá desenvolver.
Ora vejamos o que acontece com o cérebro do bebé nos primeiros anos de vida e porque é que estes anos podem ser determinantes na construção do seu futuro: no nascimento, o cérebro do bebé tem cerca de um quarto do tamanho do cérebro adulto. Incrivelmente, ele duplica de tamanho no final do primeiro ano. O cérebro continua a crescer desta forma incrível, atingindo cerca de 80% do tamanho do cérebro adulto aos 3 anos e quase 90% por volta dos 5 anos.
Como sabemos, o cérebro é o centro de comando do corpo humano. Um bebé recém-nascido tem todas as células do cérebro (neurónios) que terá pelo resto da vida, mas são as conexões entre essas células que realmente fazem o cérebro funcionar. As conexões cerebrais são aquilo que nos permite andar, pensar, comunicar e fazer praticamente tudo. Os primeiros anos da infância são, por isso, cruciais para que essas conexões se façam e com o tempo se tornem mais capazes e eficazes. Pelo menos um milhão de novas conexões neurais (sinapses) são feitas a cada segundo que passa, nos primeiros anos de vida do bebé, mais do que em qualquer outro momento da nossa vida.
Diferentes áreas do cérebro são responsáveis por diferentes habilidades, como movimento, linguagem e emoções, sendo que cada uma delas se desenvolve a ritmos diferentes. O desenvolvimento do cérebro faz-se de forma interligada e previsível, de forma a que cada capacidade mais complexa se desenvolve depois de uma mais simples se ter desenvolvido. Isso permite que a criança se mova e fale e pense de formas cada vez mais complexas.
Os primeiros anos são a melhor oportunidade para o cérebro de uma criança desenvolver as conexões que precisam por forma a garantirem um futuro em que se tornem adultos saudáveis, capazes, bem-sucedidos e felizes. Mesmo quando pensamos em competências superiores, como sejam a comunicação, a motivação, a autorregulação emocional, a resolução de problemas, elas dependem dessas conexões e são formadas (ou não) nesses primeiros anos. É muito mais difícil que essas conexões cerebrais essenciais sejam formadas mais tarde na vida.
A investigação
Todos nós já ouvimos falar de cromossomas, são estruturas com aspeto de filamentos que se encontram nas células de plantas e animais responsáveis por armazenar as informações hereditárias na forma de genes; cada cromossoma é composto por DNA e proteína, no DNA estão as instruções responsáveis por exemplo uma pessoa, ter olhos azuis ou cabelos ruivos, ou determina como uma pessoa cresce e se desenvolve.
Ora neste estudo, que envolveu 94 bebés, era pedido aos pais que durante cinco semanas preenchessem um diário do comportamento do bebé (choro, sono e amamentação) assim como colo.
Mais tarde, quando as crianças tinham entre 4 e 5 anos foram colhidas amostras de DNA através da saliva para observação.
Os investigadores examinaram em particular um processo chamado metilação do DNA, no qual algumas partes do cromossoma são “marcadas” com moléculas que agem como uma espécie de “interruptor”, que vai controlar o quão ativo cada gene é e o quanto isso afeta o funcionamento das células do corpo. Na metilação, algumas partes do cromossomo são literalmente tagadas (@) com pequeninas nas moléculas de carbono e hidrogénio, afetando muitas vezes a forma como os genes funcionam e afetando sua expressão.
A extensão da metilação, e onde no DNA isso acontece especificamente, pode ser influenciada por condições externas, especialmente na infância e esses padrões epigenéticos também vão alterando de forma previsível à medida que nós envelhecemos.
Neste estudo, os investigadores observaram diferenças consistentes na metilação entre o grupo de crianças que tiveram muito afeto físico em bebés quando comparado com o grupo de crianças que não tiveram tanto contato físico em bebés. Sendo que as diferenças de metilação entre esses grupos de crianças ocorreram em certos locais específicos de DNA (cinco), incluindo dois deles que dizem respeito aos genes que afetam o sistema imunológico e o metabolismo.
O que querem dizer os resultados
Os resultados mostraram que as crianças que ficaram mais angustiadas quando bebés e tiveram menos contacto físico com a mãe, o pai ou outro cuidador desenvolveram um perfil molecular nas suas células que os cientistas descrevem como sendo subdesenvolvido para a idade, e que poderia refletir um progresso desenvolvimental menos favorável. Ou seja, registaram uma “idade epigenética” menor do que aquela que seria de esperar tendo em conta a sua a idade real.
Sinal de que essas crianças estavam mais atrasadas no progresso do desenvolvimento do que as crianças que tiveram mais contacto físico quando eram bebés. Sendo que estas diferenças ainda eram visíveis 4 anos mais tarde.
Basicamente, os bebés que recebiam menos contacto humano tinham uma “idade epigenética” mais baixa do que aqueles que recebiam muito colo, abraços e beijinhos. E, novamente, embora os cientistas não saibam exatamente como esse desfasamento pode afetar as crianças, sabe-se de outros estudos que afeta negativamente a saúde.
Os bebés que têm menos contacto físico e ficam mais angustiados em tenra idade, acabam por desenvolver alterações ao nível de processos moleculares que afetam a expressão genética.
O que é que isto significa para os pais e para os bebés
Basicamente, esta investigação mostra que algo tão simples quanto dar colo ao seu bebé pode causar mudanças nos seus genes, o que pode mudar sua saúde e desenvolvimento para a vida.
Isto é, o simples ato de tocar, de pegar ao colo no início da vida, tem consequências profundamente enraizadas e potencialmente duradouras no epigenoma – alterações bioquímicas que afetam a expressão genética.
Provavelmente não precisa de mais desculpas para pegar no bebé e acariciá-lo nos seus braços, no entanto é sempre bom ter esta carta na manga enquanto dá ainda mais colo ao seu bebé e se deleita com o conhecimento. Sabendo que não está só a fazer o seu bebé e a si mais felizes, mas também pode torná-lo mais saudável.
Por outras palavras: Pais, deem muito colo aos vossos bebés, não só é instintivo e faz todo o sentido como também é totalmente apoiado pela ciência. Esqueçam o que os outros dizem. Sigam os vossos instintos. Mimem os vossos bebés, em particular quando o bebé parece mais agitado, irritado ou chora porque é provável que ele precise ainda mais de colo nesses momentos.