No primeiro ano encontramos as explicações para quase tudo o que somos em adultos
Eles comem, eles babam-se, fazem xixi e cocó a toda a hora, palreiam sem que ninguém perceba nada e passam o tempo a dormir! Se pensarmos bem na forma como os bebés passam os seus dias seremos tentados a achar, à primeira vista, que um bebé não terá muitos recursos cognitivos e emocionais, para compreender as pessoas à sua volta e o mundo em seu redor.
Mas é só à primeira vista, porque se olharmos com atenção e na direção certa, conseguimos perceber que os bebés estão altamente focados em tentar criar sentido para aquilo que se passa à sua volta… Verdadeiros cientistas a analisar e a colectar dados, eles estão de uma forma sistemática a analisar objetos e pessoas à sua volta, a anotar os dados que obtêm do mundo, a desenhar experiências e a testar todas as suas hipóteses! Melhor!… Quando os dados recolhidos não fazem sentido ou não são os que os bebés esperam, eles são capazes de recuar no método, rever a hipótese e colocar novas, como se de um novo estudo científico se tratasse.
O que se passa dentro daquelas cabecinhas é verdadeiramente espetacular!
Os primeiros anos de vida, em particular o período entre os 0 e os 3 anos de idade, apresentam um ritmo de evolução cerebral único na vida do ser humano, sendo o de maior e mais rápido crescimento, mas também o mais crítico para o seu desenvolvimento e para toda a sua vida.
Ao nascer, o cérebro de um bebé pesa cerca de 400 gr, representa cerca de 30% do cérebro de um adulto; nos primeiros três meses, cerca de 50%, no final do 1º ano, mais do que duplica o seu tamanho e por volta dos 3 anos de idade o cérebro do bebé corresponde a cerca de 90% do cérebro de um adulto! O que corresponde mais ou menos a um crescimento de 1% em tamanho, por dia. Em nenhum outro momento da vida o aumento e as mudanças no cérebro ocorrem de forma tão rápida. Paralelamente a este crescimento cerebral, ocorrem também alterações neurológicas que preparam as aquisições futuras do bebé, o andar, o falar e até mesmo o ser capaz de dormir durante a noite toda! Enquanto o bebé se desenvolve, o cérebro recebe informações de todos os cinco sentidos, permitindo a multiplicação de neurónios e a formação de inúmeras conexões entre estes.
De segundo em segundo, um novo crescimento ocorre, novas conexões são formadas e são desenvolvidos padrões neuronais em resposta ao ambiente. Através da estimulação sensorial (de todos os sentidos) ajudamos a que essas conexões sensoriais se tornem mais fortes. Um cheiro a café que o bebé inala em casa ou o ladrar de um cão e o cérebro do bebé corresponde com uma faísca, mesmo ainda sem compreensão cognitiva acerca destes estímulos, mas pronto para transformar essa faísca numa conexão cerebral, que se irá repetir novamente caso volte a receber os mesmos estímulos nos dias e meses seguintes. E quanto mais uma determinada conexão é usada, mais mielina (substância que protege os neurónios) vai tendo, fazendo com que os sinais elétricos circulem com mais rapidez e eficácia.
As conexões usadas regularmente tornam-se mais fortes e mais complexas, mas as que não são utilizadas, são eliminadas através de um processo chamado de poda neural.
As experiências começam a comprometer as células e as suas funções finais no sistema. O cérebro toma forma. Mas isto não acontece de forma espontânea ou automática, o cérebro, ao contrário de outros órgãos que se encontram totalmente maduros no momento do nascimento, depende do meio e das interações para que isso aconteça!
E aqui é que os pais têm o seu papel principal, neste roteiro que escrevem em conjunto com o seu bebé! Os pais são literalmente os arquitetos dos cérebros dos seus bebés, começando, como na construção de uma casa, neste primeiro ano a construir as fundações da mesma, fundações fortes e seguras ficam para toda a vida, ao contrário das frágeis que vão precisar de reparações em vários momentos futuros.
Até já!
Texto originalmente publicado in: “Revista Pais & Filhos”.