Mas porque é que ele não me ouve?!?
3 Maio, 2022
Uma das coisas com que nós, pais, temos que nos confrontar a dada altura do desenvolvimento dos nossos filhos, é o facto de eles parecer que fazem “ouvidos moucos” quando estamos a falar com eles. Por alguma razão desconhecida parece que quando os nossos filhos começam a falar, nós “esperamos” que também nos comecem a ouvir, coisa que quando não acontece nos deixa IRRITADÍSSIMOS!!!!
Na realidade eles são como nós – nem sempre ouvem. Mas eles precisam de nós para ensiná-los a prestar atenção. No entanto, o que acontece com frequência é que os pais dizem algo dez vezes e depois começam a contagem decrescente que os leva ao castigo…
No entanto, isto não ensina a criança a ouvir – ensina que ela pode ignorar os pais nas primeiras vezes em que dizem algo e só prestar atenção quando sabe que estão prestes a perder a cabeça!
Por isso, comecemos por falar acerca do que na realidade podemos esperar dos nossos filhos, no que diz respeito às suas capacidades de nos escutarem.
Vejamos o que se passa dentro da sua cabecinha: embora por volta dos 3 anos de idade grande parte do cérebro da criança já se encontre desenvolvida, existe uma área muito importante que só nesta altura iniciou a sua maturação – já aqui vos falei várias vezes do córtex pré-frontal, o comandante de todo o cérebro e uma das últimas partes a começar a maturar. Isto acontece por dois processos importantes no desenvolvimento cerebral: o processo de mielinização e o processo de poda neuronal.
Explicando cada um deles…
A mielinização é o processo pelo qual a barreira de mielina cobre os neurónios, tal e qual a camada isoladora de plástico de um fio elétrico, para acelerar o processamento no cérebro (que começa no nascimento). Este processo não estará completo até ao final da adolescência.
Nos primeiros anos de vida novas conexões são formadas a cada segundo e são desenvolvidos padrões neuronais em resposta ao ambiente. Quanto mais uma determinada conexão é usada, mais mielina (substância que protege os neurónios) vai tendo, fazendo com que os sinais elétricos circulem com mais rapidez e eficácia. As conexões usadas regularmente tornam-se mais fortes e mais complexas, mas as que não são utilizadas são eliminadas através de um processo chamado de poda neuronal. E vejam só, a área cerebral onde ela acontece em último lugar: na área do córtex pré-frontal!
Já percebeu agora porque é que o seu filho nem sempre parece ouvi-la(o) ou querer responder de acordo?
Ser pequenino não é fácil, especialmente quando os “grandes” esperam respostas de “grandes”!
Então, o que podemos fazer?
Embora existam razões neurológicas que explicam o facto de uma criança não responder imediatamente, saiba que há muitas coisas que os pais podem fazer para a ajudar.
Olhe para o seu filho.
Olhar nos olhos é uma das maiores ferramentas que podemos usar com as crianças para que elas entendam que queremos que nos escutem e o que queremos delas. Isto é particularmente essencial quando se trata de algo importante e para além de lhe transmitir que queremos que esteja focado no que estamos a dizer, estamos também a transmitir um excelente mensagem: a de que estamos focados só neles!!!
Esteja disponível para analisar o seu próprio comportamento.
Pense um pouco: quer que o seu filho a(o) ouça ou que lhe obedeça?!
Muitas vezes ouço-me a mim mesma e a outros pais a dizer “Pára com isso, por favor!” quando não gostamos do que eles estão a fazer. Eu própria faço isso quando a minha filha dá uma de Maria Callas e quase me rebenta os tímpanos… mas na verdade o que lhe estou a pedir (apesar de parecer simples e fácil) é uma das coisas mais difíceis para um cérebro que não tem um córtex pré-frontal desenvolvido fazer!
Se quer que o comportamento do seu filho seja de parar o que está a fazer (por exemplo pintar) ele vai precisar da sua ajuda. Uma das melhores maneiras de ajudar é redirecionar a ação.
Provavelmente está absorvido na tarefa e ouvir “Pára com isso!” não vai fazer com que ele páre porque é como se ele estivesse num processo, que tem que continuar.
Em vez disso, vá ter com ele, reconheça a sua “veia de artista” (nova competência que está a desenvolver) e tente algo parecido com isto: “Uau – Gostas de pintar!”. Em seguida, redirecione-o para outro local onde seja permitido pintar. Isto não apenas muda o comportamento, mas também ensina qual o comportamento apropriado que quer que o seu filho tenha da próxima vez que ele tiver vontade de ser criativo.