É preciso dois para dançar o tango: o que é a corregulação
A Autorregulação
Para as crianças pequenas, a capacidade de regular as emoções é, na verdade, muito mais difícil do que imaginamos e muitas vezes totalmente aquém daquilo que esperamos deles em termos comportamentais.
A capacidade de autorregulação define-se como a capacidade de compreender e gerir o nosso comportamento e as nossas reações a sentimentos internos e coisas externas que acontecem à nossa volta. Inclui, por exemplo, ser capaz de regular as reações a emoções fortes, como frustração, raiva e medo, ser capaz de acalmar-se depois de algo perturbador, ter foco numa tarefa, controlar os impulsos, etc.
Ora, isto são tudo competências que o cérebro de uma criança pequena ainda não teve tempo para desenvolver, daí que muitas vezes as nossas expectativas em relação aos comportamentos dos mais pequenos estejam completamente desajustadas. Por exemplo, uma peça de um puzzle não encaixar ou o copo de água ser verde em vez de vermelho podem ser razões suficientes para uma grande birra (leia-se desregulação neurobiológica).
Nos mais pequenos, as emoções são vividas de forma muito diferente de nós: as suas emoções são muito mais intensas e podem ir do 8 ao 80 em segundos. O que a eles os deixa frustrados, angustiados ou com medo é muito diferente do que nos deixa a nós. Para além disso, as suas capacidades de comunicação ainda não são as melhores, o que torna tudo mais difícil ainda.
Como é que as crianças desenvolvem esta regulação emocional?
O que podemos fazer para ajudar:
As crianças desenvolvem autorregulação através de relações afetuosas e responsivas e também através da observação dos nossos comportamentos de auto regulação. É um processo que se inicia em bebé, desenvolve-se mais até aos 6-7 anos, mas que só irá terminar de desenvolver-se na idade adulta.
Por exemplo, os bebés podem chuchar no dedo para se sentirem confortáveis ou desviar o olhar numa brincadeira se estiverem a ficar cansados.
As crianças pequenas aguentam esperar tempos curtinhos por comida. Mas não são ainda capazes de partilhar um brinquedo se o quiserem mesmo. Nestas idades as birras também são frequentes quando os mais pequeninos são literalmente abalroados por emoções muito fortes.
É importante reconhecer que os mais pequeninos não agem desta forma para manipular, prejudicar ou tornar a nossa vida num inferno, não é nada de pessoal. Eles próprios estão a passar um mau bocado quando se descontrolam. E por estarem em estado de angústia, não podemos esperar que nesses momentos se “portem bem” ou “sejam educados”; na maior parte das vezes estão com raiva ou angústia e vão exprimir essas emoções a bater, chorar, gritar, etc…
O que é a corregulação?
Se nós reagirmos também com raiva, gritando, ou sendo agressivos de qualquer outra forma, isso só vai complicar a situação e não vai ensinar os mais pequenos a regularem-se. Em vez disso precisamos, sim, corregular, algo imprescindível ao desenvolvimento da autorregulação.
A corregulação é a forma como o meu cérebro de mãe/pai faz sentir o cérebro do meu bebé, é a nossa capacidade de acalmar os estados mais angustiantes do bebé pela forma como lidamos com a situação que ele está a viver.
Ao usarem a sua voz, movimentos, afetos, gestos e entoações, os pais e cuidadores principais podem ajudar os bebés e crianças pequenas a saberem que estão sintonizados com alguém muito importante e que lhes dá segurança. Com o tempo, essas experiências de corregulação, em particular em momentos de stress, vão construindo no cérebro circuitos que os ajudam a acalmar e a serem capazes de lidar com as suas emoções.