Para além de peso e medida
O desenvolvimento do seu filho e da sua saúde são muito para além do físico!
Sabia que os primeiros anos de vida de uma criança, desde o desenvolvimento embrionário até aos 6 anos de idade, são os mais importantes ?
As crianças desenvolvem-se num contínuo, ou seja, todos os aspetos físicos, cognitivos e emocionais vão-se alterando e evoluindo gradualmente e este desenvolvimento é influenciado por vários fatores: como o género, o local de nascimento, mas em particular pelas primeiras experiências de vida.
Todas as famílias aguardam com expectativa o primeiro sorriso de uma criança, o primeiro passo, e as primeiras palavras. Os rastreios regulares com profissionais da primeira infância ajudam a sensibilizar para as etapas de desenvolvimento de uma criança, a atingir, tornando mais fácil aos pais, saber pelo que esperar, mantendo a sua vigilância.
As mudanças que ocorrem no desenvolvimento do bebé durante os primeiros anos de vida são verdadeiramente notáveis, por isso os pais devem estar atentos aos marcos desenvolvimentais do bebé, como por exemplo quando é que o bebé começa a sorrir, a dormir a noite toda, a caminhar, a conseguir fazer desenhos, etc
Desde cedo que, todos os pais gostam de saber que o seu bebé se está a desenvolver bem ou seja, como esperado para a sua idade. Mas muitas vezes, quando nos questionamos acerca deste desenvolvimento acabamos por prestar mais atenção aos marcos de desenvolvimento físico, ou seja, ver se o bebé está dentro do “percentil” em termos de peso e altura, acabando por, no dia-a-dia, descurar o desenvolvimento emocional, cognitivo e social da criança.
De facto, é normal após o nascimento de um bebé, este fazer visitas de rotina ao pediatra, mas não é muito vulgar fazer as mesmas visitas de rotina ao psicólogo!
Assim como o exame auditivo ou oftalmológico visam assegurar que as crianças estão a ouvir e ver corretamente, os exames comportamentais e de desenvolvimento asseguram-nos que as crianças estão a evoluir no seu desenvolvimento, em áreas como a linguagem, social, motor ou emocional, de acordo com o que é espectável para a sua faixa etária.
Tendo em conta que estas áreas de desenvolvimento na primeira infância estão diretamente relacionadas com a aquisição de determinadas competências que permitem às crianças ter, por exemplo, sucesso escolar e sabendo nós que irão influenciar a sua forma de lidar com o mundo para toda a vida, será que devemos deixar que se desenvolvam ao acaso !?
Ou não seria melhor, e de acordo com as recomendações internacionais, que as nossas crianças pudessem ser avaliadas desde o inicio da vida e os pais orientados para essas etapas de desenvolvimento ?
Mas afinal, o que é o desenvolvimento infantil ?
Muitos fatores podem influenciar o desenvolvimento de uma criança, incluindo biologia e as primeiras experiências com os cuidadores. Fatores como relações afetuosas e seguras, oportunidades de aprendizagem diversificadas, nutrição adequada, exercício e descanso podem fazer uma grande diferença no desenvolvimento de uma criança saudável.
Por outro lado, os eventos adversos, tais como disfunção familiar, abuso, pobreza, negligência, exposição à violência ou trauma podem ter impacto negativo sério no desenvolvimento infantil.
As crianças desenvolvem no eu próprio ritmo, por isso é impossível prever exatamente quando uma criança vai adquirir uma determinada habilidade. No entanto, as etapas de desenvolvimento alcançadas dão-nos uma ideia geral das alterações à medida que a criança cresce.
Competências tais como dar o primeiro passo, sorrir pela primeira vez, ou até abanar a mãozita em sinal de adeus, são os chamados marcos ou etapas de desenvolvimento, a sua aquisição representam os pilares fundamentais do crescimento saudável.
Em que consiste a avaliação de desenvolvimento ?
As avaliações de desenvolvimento servem para determinar se os bebés e crianças estão a adquirir as capacidades e competências básicas no momento em que é esperado que isso aconteça.
Como não existem analises sanguíneas para determinar se o seu filho tem algum atraso, estas avaliações fazem-se através de questionários aos pais, da observação direta da criança a brincar, obtêm-se informações preciosas acerca das diferentes áreas de desenvolvimento: comportamental, cognitivo e socio-emocional, verificando se a criança se esta a desenvolver conforme o espectável.
Através da observação cuidadosa, avaliação e comunicação com os pais ou cuidadores da criança, os profissionais de saúde podem obter uma imagem clara da criança e assim identificar riscos, preocupações ou atrasos. Por isso, se estas avaliações se fizerem por rotina oferecem oportunidades cruciais para triagem de transtornos do desenvolvimento, para monitorar o desenvolvimento social, emocional e cognitivo de uma criança.
Esta avaliação das diferentes áreas de desenvolvimento deveria fazer parte do processo de avaliação de rotina do crescimento da criança e não deveriam ser deixadas ao acaso porque, até porque se estima que cerca de uma em cada quatro crianças até de cinco anos de idade se encontra em risco de um atraso de desenvolvimento ou deficiência.
A identificação precoce destes atrasos, permite uma intervenção mais atempada, levando a um tratamento mais eficaz e mais barato durante os anos pré-escolares.
Na pratica estas avaliações fornecem uma forma rápida e simples de monitorar o desenvolvimento saudável da criança e desempenham um papel importante na deteção precoce e apoio adequado para aquelas crianças que por diversas razões apresentam algum atraso. Quanto mais cedo um atraso no desenvolvimento ou distúrbio for detetado, melhor o prognóstico para a criança.
Todos os pais querem que o seu bebé venha a ser a melhor versão de si próprio
Porque a avaliação de desenvolvimento é importante ?
Quando algum atraso de desenvolvimento não é precocemente detetado, significa que esse bebé, não irá ter a ajuda e o apoio que necessita para o ultrapassar, no momento certo. Como facilmente se percebe este bebé terá maiores dificuldades aquando por exemplo da entrada para a escola, altura em que a maior parte das dificuldades ou mesmo atrasos das crianças são sinalizados. Ora se o bebé receber esta ajuda quando dela necessita, poderá mais facilmente superar as suas dificuldades e consequentemente superando os seus problemas a sua entrada na escola será por certo com maior capacidade para aprender e obter sucesso.
Os psicólogos, como especialistas em avaliação, desenvolvimento e saúde mental, detêm um importante papel no uso dos recursos da criança e da sua família para a promoção da saúde. Ao estarmos sensibilizados para todos os aspetos do desenvolvimento do bebé, seremos mais capazes de iniciar uma intervenção precoce. Esta intervenção leva ao aumento da estimulação cerebral num momento em que o cérebro da criança é mais recetivo e maleável.
A avaliação psicodesenvolvimental é importante devido ao potencial que cada criança possui: potencial para o sucesso, para ultrapassar os desafios, mas acima de tudo, para a mudança e desenvolvimento. Ao reconhecer o risco distúrbio ou de atraso de desenvolvimento, numa criança é também reconhecer e maximizar o seu potencial.
Quando deve ser realizada esta avaliação ?
Os estudos demonstram um crescente reconhecimento da importância da saúde mental na avaliação pediátrica, tendo alguns países adotado medidas para incentivar uma mais abrangente e eficaz identificação, prevenção e cuidados para distúrbios de saúde mental na prática pediátrica.
Assim as recomendações internacionais sugerem que, a avaliação do desenvolvimento psicossocial e comportamental deve ser realizada logo após o nascimento (3-4 dias), mantendo-se com uma frequência entre 2-3 meses sensivelmente até aos 2 anos de idade. Deverá ser posteriormente realizada com intervalos de 6 meses até aos 6 anos e anualmente a partir daí.
Em particular o despiste das perturbações do espectro do autismo deve ser realizado no máximo aos 18 meses de idade, sendo que as avaliações anteriores permitem obter pistas acerca desta perturbação, podendo ser diagnosticada anteriormente.
O que é um atraso de desenvolvimento ? O meu filho irá ultrapassa-lo só com o tempo ?
À medida que a criança vai crescendo, através do brincar, do convívio com os seus cuidadores e ao explorar o meio ambiente que a rodeia, ela vai adquirindo certas habilidades, como por exemplo a capacidade de apontar, de colocar uma peça num puzzle ou de contar uma história, a isto chamamos metas de desenvolvimento.
Com a intervenção adequada, uma criança pode superar uma ampla gama de problemas de desenvolvimento. Uma intervenção atempada, bem desenhada e intensiva pode melhorar as perspetivas e a qualidade de vida de muitas crianças que são consideradas em risco de comprometimento cognitivo, social e emocional.
Mesmo as crianças com doenças como perturbações do espectro do autismo, que se pensava ser virtualmente intratável, podem fazer progressos mensuráveis com uma intervenção eficaz.
Um atraso de desenvolvimento é quando a criança não alcança estas metas na mesma altura que a maior parte das outras crianças, com mesma idade. Na maioria dos casos, um problema de desenvolvimento não é algo que as crianças consigam “ultrapassar” sozinhas. Contudo, com ajuda especializada, todas as crianças podem alcançar todo o seu potencial!
Texto original publicado in "Pais & Filhos