Como as crianças entendem a morte de um animal de estimação?
Apoie o seu luto, ao reconhecer a sua dor.
As crianças são capazes de compreender, cada um ao seu modo, que a vida deve terminar para todos os seres vivos. A morte de um animal de estimação pode ser uma oportunidade para a criança aprender que os cuidadores podem ser confiáveis para prolongar o conforto e a segurança. É uma oportunidade importante para incentivar uma criança a expressar os seus sentimentos.
É natural querermos proteger os nossos filhos de experiências dolorosas. A maioria dos adultos, no entanto, fica surpreendida ao descobrir como a maioria das crianças se adapta à morte de um animal de estimação, se estiver devidamente preparado, com explicações simples e honestas. Desde tenra idade, as crianças começam a entender o conceito de morte, mesmo que não o percebam a um nível consciente.
Quando um animal de estimação está à beira da morte, pode ser mais difícil para uma criança conseguir enfrentar e resolver o sofrimento que está a passar se a criança não receber a verdade. Os adultos devem evitar utilizar os termos como “ficou a dormir para sempre” ao discutir a eutanásia de um animal de estimação da família, uma vez que pode confundir os mais pequenos e contribuir para que desenvolvam um medo ou receio na hora de dormir (ou que imaginem que o pai ou a mãe quando adormecem lhes possa acontecer a mesma coisa).
O mesmo é válido quando se sugere que “Jesus levou” o animal de estimação, uma vez que pode criar conflito na criança, o que pode levar a raiva do poder superior e da crueldade cometida contra o animal de estimação que ele tanto gostava.
Aqui deixamos algumas dicas para partilhar (da melhor forma possível) a notícia com o seu filho de acordo com a idade e a sua consequente compreensão do mundo:
Crianças de dois e três anos de idade
Crianças com dois ou três anos de idade não entendem a noção de morte. Geralmente consideram isso uma forma de sono. Eles devem ser informados de que o seu animal morreu e que não vai voltar mais, dando-lhes a oportunidade de se “despedirem” do animal através de um desenho, por exemplo. Reações comuns a isso incluem perda temporária da fala e sofrimento generalizado. É importante que elas sejam asseguradas que de que não é culpa deles, e que não está relacionado com nada que a criança tenha dito ou feito. Normalmente uma criança nesta faixa etária aceita outro animal de estimação no lugar do outro que faleceu.
Crianças de quatro, cinco e seis anos de idade
As crianças nesta faixa etária já têm alguma compreensão da morte, mas de uma forma que se relaciona com uma “existência continuada”. Isto quer dizer que consideram que o animal está a viver no subsolo, e que continua a comer, respirar e a brincar. Algumas crianças também vêem a morte como uma coisa contagiosa e o que pode desencadear comportamentos de medo da sua própria morte (ou a dos outros) como algo eminente. Portanto devemos esclarecer que a morte deles não é provável. As manifestações da sua dor e sofrimento muitas vezes tomam a forma de distúrbios no controlo da bexiga e do intestino, na alimentação e no sono. Isto será melhor gerido com uma conversa que irá permitir a expressão dos seus sentimentos e as suas preocupações. O melhor mesmo é ir tendo várias conversas com a criança ao longo do tempo, à medida das suas preocupações.
Crianças de sete, oito e nove anos de idade
A irreversibilidade da morte já se torna real para estas crianças, embora geralmente não faça parte dos seus pensamentos a sua própria morte. No entanto, algumas crianças podem desenvolver preocupações sobre a morte dos seus pais. Geralmente as crianças nesta faixa etária ficam muito curiosas sobre a morte e as suas implicações. Os pais devem estar prontos para responder com verdade e honestidade às questões que possam surgir. Várias manifestações de luto podem ocorrer nesta faixa etária, incluindo o desenvolvimento de problemas escolares, problemas de aprendizagem, comportamento antissocial, preocupações hipocondríacas ou comportamentos agressivos. No entanto, é provável que os sintomas não ocorram imediatamente, mas várias semanas ou meses após o evento.
Adolescentes
Embora esta faixa etária também reaja de uma maneira semelhante aos adultos, muitos adolescentes podem apresentar várias formas de negação. Isto geralmente toma a forma de uma falta de expressão emocional. Consequentemente, estes jovens podem estar a sofrer sem quaisquer manifestações externas.
Porque é tão difícil ultrapassar a dor da perda de um animal?
Quando um pai, cônjuge, filho ou alguém próximo de nós morre, a nossa perda geralmente é recebida pelos outros com empatia, conforto e sinceros pêsames. Como se estivéssemos autorizados a sofrer, a chorar. Somos autorizados a experimentar as nossas emoções.
Mas se falarmos com milhões de pessoas que tiveram animais de estimação, a realidade é bem diferente. Vários donos de animais de estimação que tiverem um cão atropelado por um carro ou um gato doente, vão dizer que a maioria das pessoas não entendeu a profundidade da sua dor, e que até sentiram uma grande insensibilidade, ou comentários rudes do tipo: “porque não compra outro cão?”. “ É só um gato, não é preciso ficares triste”. O que torna o luto de um animal de estimação não só doloroso por causa da perda em si, mas também mais profundo, devido à potencial solidão deste tipo de luto.
Uma ferramenta eficaz para ajudar os nossos pequenos a lidar com as perdas pode ser o livro “Pipo – O urso que não queria ficar sozinho”.